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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Tão eu





Passei a vida inteira tentando entender o que me deixava tão diferente de todos a minha volta.
Minha irmã. Minhas amigas. Minha mãe.
As mulheres com quem sempre vivi, convivi, me inspirei e me comparei.
Porque meu cabelo não crescia como os das outras garotas?
Porque meus traços e personalidade não eram delicados como os delas?
Porque todas as mulheres tinham corpos tão magros e esguios e eu não?
Minha irmã nasceu da mesma mãe que eu (dã).
Porque ela era magra e tinha cabelos lindos e eu não?
Achava isso o cúmulo do azar.
Se já tinha dificuldades pra me entrosar, depois de perceber todas essas diferenças estéticas, aí que eu me isolava mesmo.
Desde pequena via os desenhos animados e enquanto minha irmã era a princesa, eu me comparava ao shrek ou ao burro.
É lógico que ter os famosos apelidos de "baleia", "botijão"  e "quatro olhos", me incentivaram um pouco mais a me achar estranha.
O ser humano é meio cruel as vezes, sabe?!
Bom. Eu cresci.
Sempre continuei me achando meio estranha, se quer saber.
Mas hoje me tornei o inverso.
Fico imaginando a graça que as pessoas veem em ser iguais.
97% das meninas da minha cidade tem a mesma estatura. O mesmo corpo. O mesmo cabelo.
2% são diferentes porque não receberam a dádiva de terem um corpo ou cabelo da moda.
Prazer, eu sou o 1%.
Se eu quisesse eu poderia deixar meu cabelo crescer.
Poderia voltar a usar chapinha.
Poderia me entupir de maquiagem.
Eu poderia fazer as dietas mais doentias pra tentar ter o mesmo peso da minha colega que mede a metade da minha altura, pra eu entrar na moda.
Mas eu não vou fazer isso.
Sabe porque?
Porque a minha graça é exatamente ser diferente.
Não me importo que não gostem da minha legging de quadrinhos.
Tão pouco me preocupo se você compara meu cabelo com a juba de um leão apesar de eu achar fofo.
Vai se foder se você me acha metida.
Prefiro muito mais ser escandalosa e ter uma boca suja do que só saber falar de garotos e fazer fofoca dos outros.
Vou continuar pagando meus micos.
Continuar me entupindo de chicletes amargos e que deixam minha boca com cores estranhas.
Vou continuar tentando fazer bolas de chiclete em vão.
E continuarei cantando minhas músicas com meu inglês terrível.
E se você continuar rindo de mim, levarei isso como o mais incrível elogio.
Porque não vejo sentido em ser igual.

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